O presidente do PSD afirmou sábado à noite que o Governo se prepara para fazer campanha partidária em 2017 e acusou o Executivo de aumentar as pensões apenas em agosto devido às eleições autárquicas. “Eu se fosse primeiro-ministro de um Governo que se comportasse assim, eu tinha vergonha. Eu tinha vergonha de andar a usar o Estado para fazer campanha partidária e é isto que este Governo se prepara para fazer, campanha partidária durante o ano de 2017”, afirmou Pedro Passos Coelho em Vila Real, onde participou num jantar de homenagem a antigos autarcas, 19 de novembro.
Num discurso que durou mais de 40 minutos, o líder social-democrata aproveitou para deixar um “repto claro” ao Governo e à maioria. “Se querem aumentar as pensões e nós achamos bem, que diga que dinheiro é que tem para o fazer e esse dinheiro (…) que o dê a partir de janeiro e que o dê às pessoas todas que precisam”, salientou.
Perante uma sala com mais de 400 militantes e simpatizantes, Passos Coelho declarou que o Governo vai aumentar as pensões a partir do mês de agosto porque é a partir desse mês que “há campanha eleitoral para as autárquicas”. “O que se vai dar até ao fim do ano não é mais nem menos do que eles lá têm para dar, mas se derem só a partir de agosto é evidente que vai parecer mais. É isto uma atitude de respeito pelas pessoas? Querem tomar as pessoas por parvas?”, frisou.
O líder do PSD falou ainda do aumento do subsídio de refeição e acusou o Governo de António Costa de querer ganhar as eleições com uns “aumentozinhos dados em agosto”. “Vamos deixá-los fazer a sua campanha, mas têm de nos ouvir, porque a campanha que estão a fazer devia envergonhá-los. Mostra que não têm respeito pelos lugares que ocupam e não têm respeito pelas pessoas, se as respeitassem tratá-las-iam por igual e como deve ser, sem se apropriarem daquilo que é a presença no Governo para fazer política partidária”, sublinhou.
Passos Coelho referiu ainda que as próximas eleições autárquicas são uma oportunidade de o PSD mostrar que tem uma "nova geração de autarcas para responder a tempos novos" e lembrou as propostas apresentadas pelo seu partido para o Orçamento do Estado (OE) de 2017, que disse que trazem “uma ambição maior para o próximo mandato autárquico”.
O presidente do PSD defendeu que as autarquias devem desempenhar um “papel mais relevante” a nível da educação, da saúde ou das áreas sociais. “Espero que esta discussão que pretendemos abrir a partir do OE seja o princípio desse caminho que o Parlamento pode trilhar até às autárquicas. O objetivo é deixar tudo aberto até às eleições”, frisou.
"Despudor, indignidade e total falta de ética"
O líder do PSD qualifica como um “despudor total”, uma “indignidade” para a função do Estado e uma “total falta de ética política” a polémica em torno da Caixa Geral de Depósitos (CGD): “É um despudor total e eu penso que não é só uma indignidade para a função do Estado, eu acho que é também uma total falta de ética política. Se isto não é bater no fundo, o que é bater no fundo? Se isto não é faltar ao respeito às pessoas, o que é?”
O presidente social-democrata referiu-se à CGD e ao eventual acordo do Governo e da administração do banco sobre declarações de rendimentos. “Por quem nos tomam? Tomam-nos por gente muito distraída que não liga ao que se está a dizer, não há vergonha? Diz-se o que se quiser? Isto e o seu contrário? Muda-se a lei para aquele propósito, convida-se aquelas pessoas dentro de uma nova lei e depois diz-se ‘não, não, não temos nada a ver com isto, isto agora é com os tribunais?”, questionou Passos Coelho.
O líder do PSD ironizou ao dizer que agora o Governo “já nem sabe qual é a lei que está a valer”. “Eu não sei quais são os compromissos que foram realizados ou não, quaisquer que tenham sido esses compromissos pelo menos que as pessoas tenham a hombridade de dizer o que é que combinaram”, destacou.
Pedro Passos Coelho afirmou ainda que “as pessoas merecem” essa explicação: “É isto que a oposição exige quando fiscaliza o Governo e não, não é uma questão de guerra partidária, de estar mais bem-dispostos ou menos bem-dispostos, é uma questão de decência”.
E acrescentou: “Se houvesse decência, este folhetim não demorava há tanto tempo; se o Governo quer retomar ainda alguma decência nesta matérias, já não tem muito tempo para a recuperar”.
O PSD instou na sexta-feira o Governo a desmentir a existência de um eventual acordo por escrito entre o Governo e o presidente da Caixa sobre as declarações de rendimentos. O Conselho de Administração da CGD reuniu-se na quinta-feira e era possível que tomasse uma decisão relativamente à entrega das declarações de rendimentos dos seus membros, mas nada foi divulgado publicamente. Em causa, em toda a polémica, está o impasse gerado relativamente à apresentação das declarações de património e de rendimentos ao Tribunal Constitucional por parte da nova equipa de gestão do banco público. Na quinta-feira à noite, no programa "Quadratura do Círculo", na SIC Notícias, o comentador António Lobo Xavier declarou haver um compromisso por escrito entre o Governo e António Domingues em torno da não apresentação das declarações.